Teses e Dissertações defendidas no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFF
Entrevista com o professor Nelson da Nóbrega Fernandes, sobre o rapto ideológico da categoria subúrbio, título do seu recém lançado livro.
Assistam a entrevista concedida pelo Professor Nelson da Nóbrega Fernandes ao programa “Acontece no Rio” da Rio TV Câmara, acerca de sua mais recente livro “O rapto ideológico da categoria súburbio”.
Acesso ao Vídeo no Link abaixo:
youtu.be/rJeC_cVHmlU
Contra o produtivismo, um protesto solitário – Ana Fani
Compreender as condições nas quais se reproduz a sociedade brasileira, iluminar os conflitos e a condição profundamente desigual desse processo, requer dos pesquisadores a disposição de “habitar o tempo lento” imposto pela atividade do conhecimento. Esta compreensão ? como prova a história do conhecimento ? não é individual, pois pressupõe o debate de ideias entre pares, fundado no respeito à diferença e nas possibilidades postas pela diferença de vertentes e posições teórico- metodológicas que, antes de se conflitarem, se enriquecem. Esse processo exige tempo e condições de trabalho, exige também compromissos, e exige, ainda, disposição para o debate. O trabalho individual de reflexão/análise se coloca como pressuposto da elaboração do conhecimento, condição do debate
Nesse sentido, se não há uma verdade absoluta que se
eleva no horizonte, tampouco existe somente um único caminho possível
para pensar/interpretar o mundo. Por outro lado, penso que nosso papel
na universidade é o de ensinar formando cidadãos, criando condições,
dando-lhes ferramentas para construir essa interpretação. Mas, sem uma
pesquisa que se debruce sobre a realidade, sem uma reflexão profunda e
sem fundamento, exigidos pelo árduo trabalho de “gabinete”, o que vamos
ensinar-lhes?
Não sendo o único centro de produção do conhecimento, a universidade é,
no entanto, o lugar precípuo desta possibilidade, que, para se realizar,
precisa criar as condições necessárias dessa atividade. Trata-se de
abrir espaços onde, sem preconceitos, possa desabrochar a diferença dos
modos de pensar o mundo. A condição de independência e do exercício da
liberdade de pensar se apoia na realização desta virtualidade. Mas o
tempo da reflexão, cada vez mais consumido em papéis (hoje virtuais),
relatórios e pareceres, de todos os tipos, definha sem percebermos. Em
todos os lugares, a conversa aponta a “falta de tempo”.
Não importa se nosso trabalho analisa o mundo, desvenda suas
contradições mais profundas; se com a produção de um saber construímos
os caminhos de um país independente. A universidade espera resultados
quantitativos, muitos artigos publicados ? ninguém se pergunta ou
questiona seus conteúdos, se guardam alguma possibilidade fecunda de
conceber este mundo e nossa realidade desigual e dependente – muitas
participações/organizações de congressos, seminários, worshops – não
importa se com eles aprende-se algo, se depois de exporem seus trabalhos
as pessoas se dão ao, trabalho de permanecerem para o debate. E ainda
poucos se preocupam com os debates, posto que o centro das preocupações é
o certificado de uma “presença ilusória”. Mas há mais. Solicitação de
pareceres de todos os tipos, salas apinhadas, reitores autoritários,
falta de ambiente acadêmico.
Diante deste cenário e da necessidade sempre ampliada do preenchimento
do lattes, o que fazer? Há muitas estratégias. Posso correr de um
colóquio a um workshop apresentando trabalhos “quase iguais, etc.
?Estou tão cheia de trabalho burocrático que ainda bem que meus alunos
escrevem artigos e colocam meu nome; senão não teria nada no currículo”.
Foi o que ouvi, quase literalmente, de uma colega em uma de minha
viagens.
Outro dia, ao abrir a internet para ver o último lançamento de uma
revista, constatei que uma porcentagem considerável dos artigos estava
assinada tanto pelo seu autor verdadeiro quanto pelo seu orientador.
Façamos uma conta, rápida: 10 orientandos escrevendo 2 artigos por ano
somam 20 artigos no “currículo Lattes” de seu orientador. Parece
tentador!
“Se os outros programas de pós-graduação fazem isso para aumentar a nota
junto à CAPES, também faço…”, ouvi de outro colega, coordenador de um
programa de pós-graduação! Por uma nota melhor ? em substituição ao
reconhecimento e importância da produção acadêmica realizada? cada
programa de pós-graduação torna-se não um parceiro de debate, mas,
antes, um competidor. Mas até que ponto a CAPES (que somos nós)
privilegia e cobra esse comportamento destrutivo dos professores? Onde e
quando foi decidido pela comunidade geográfica que o mestrado deve ser
concluído em 18 meses? Que se deve publicar cada vez mais (não importa
com que conteúdo), que orientadores devem assinar, como coautores,
pesquisas orientadas, quando sabe-se que existe até mesmo lei de direto
autoral indicando que orientador não é coautor (lei cuja existência de
maneira alguma substitui a ética)?
Será que a comunidade acadêmica está contente com essa situação? Quando
foi que perdemos nosso discernimento e consciência sobre nosso papel de
educadores, de formadores, de pensadores?
Um manifesto do GEU ? Grupo de Estudos Urbanos ?, que apontava com mais
profundidade e amplitude essa situação durante o Simpósio de Geografia
Urbana realizado em Brasília em setembro de 2009 caiu no vazio. Ainda
outro dia recebi um e-mail de “corajosos professores da Paraíba” que se
desligaram de seus programas de pós em protesto contra este estado de
coisas. Decisão solitária, sem prováveis seguidores. Isso não soa como
um alerta?
Nossa associação estaria preocupada com a situação dos programas de
pós-graduação em Geografia e com as condições em que se realiza o ensino
e a pesquisa, no Brasil? Ou a avaliação é de que “tudo vai bem”? Não
seria o caso da ANPEGE abrir, em seu calendário, um lugar de debate para
revermos essas práticas produtivistas e anti-éticas? Faz-se necessário
que cada programa de pós-graduação veja no outro um parceiro de debate,
um cúmplice na produção do conhecimento sobre a realidade brasileira.
Estou absolutamente convicta do papel da Geografia na compreensão do
mundo moderno, onde o espaço vem assumindo um protagonismo inédito na
compreensão da realidade de hoje. Mas isto exige trabalho de pesquisa,
reflexão, ambiente de debate.
Meu protesto solitário: retiro-me da comissão científica de todas as
revistas brasileiras das quais participo e que aceitam artigos em
coautoria orientador/orientando sobre pesquisas orientadas, como
procedimento correto e justificável.
Se achar pertinente divulgue, se quiser aderir, aja, há muitos campos de ação, procure um ou junte-se a esse!
Ana Fani Alessandri Carlos
geometropole / www.bloger.com